Autorretratos e o não surrealismo
Frida Kahlo, como muitos sabem, foi uma grande pintora mexicana reconhecida por relatar em seus quadros, fatos e sentimentos de sua própria vida. Frida, como muitos artistas, encontrou através da arte um meio para expressar seus medos, inseguranças e traumas. As pinturas de Kahlo são capazes de mostrar a beleza que pode ser enxergada em sentimentos considerados ruins. A mesma possuía uma delicadeza no olhar apto a enxergar objetos e situações por ângulos normalmente não vistos.
Suas pinturas têm cores vibrantes e fortes, característica da artista também no modo de se vestir, e são cheias de significado. Sempre com muitas imagens sobrepostas e devido à primeira vista fugirem da realidade, as obras de Frida foram consideradas surrealistas.
“Pensaram que eu era surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade.”
Os quadros de Frida tiveram muita influência dos movimentos artísticos de vanguarda, da arte folclórica mexicana, da cultura asteca e também da tradição artística europeia. Pintava natureza morta, cenas imaginárias e inúmeros autorretratos. Diante disso, resolvi trazer alguns deles e o significado que a pintora atribuiu aos mesmos.
O quadro começa a ser explicado a partir do acontecimento que mudou toda a vida de Frida. Aos 18 anos, ela e seu noivo na época, Alejandro Gómez Arias, sofreram um grave acidente de bonde que a deixou à beira da morte, Frida foi traspassada por uma barra de ferro pelo abdômen, o que ocasionou múltiplas fraturas. Foram necessárias trinta e cinco cirurgias para a recuperação da mesma e ainda assim as consequências do ocorrido ficaram com ela para o resto da vida. Kahlo ficou sem andar por um bom tempo, teve graves consequências na coluna e nas pernas e devido a uma fratura na pelve não poderia ter filhos de parto normal, o que levou os médicos aconselharem a ela não engravidar.
Ainda assim, engravidou e em 1929 sofreu o primeiro aborto e em 1932 o segundo e último. Então, a mesma pintou o quadro O Hospital Henry Ford, também conhecido como A Cama Voadora (1932). O quadro mostra a pintora deitada no leito do hospital, localizado em Detroit, EUA. Flutuando sobre o leito, pode ser visto um feto do sexo masculino, um caramujo e um modelo anatômico de abdome e de pelve. No chão, abaixo do leito, são vistos uma pelve óssea, uma flor e um autoclave. Todas as seis figuras estão presas à mão esquerda de Frida por meio de artérias, de modo a lembrar os vasos de um cordão umbilical. O lençol sob Frida está bastante ensanguentado. Seu corpo é demasiadamente pequeno em relação ao tamanho do leito hospitalar, de modo a sugerir seu sofrimento e sua grande solidão.
Do olho esquerdo de Frida goteja uma enorme lágrima, simbolizando a dor de uma mãe pela perda do filho; a pelve óssea é um testemunho da causa anatômica da impossibilidade de ser mãe.
As duas Fridas
O quadro mostra duas Fridas sentadas sobre um sofá de cordas sem encosto, uma ao lado da outra de mãos dadas. Ao fundo temos um céu muito escuro e talvez tempestuoso dando-nos a ideia de que naquele instante a autora não vislumbrava um horizonte claro, um futuro, mas sim uma eminente tempestade. As duas Fridas olham para o mesmo lugar, com olhar altivo, concentrado e enigmático. A pele de cada uma diferencia-se através da tonalidade, uma é um pouco mais escura do que a outra, assim como as expressões faciais. A de pele mais clara tem um rosto mais suave e feminino.
Mais uma vez Frida Kahlo usou um vestido para fazer a diferença na sua obra, os mesmos sempre foram peças importantes na composição dos seus quadros. Nesta obra, uma das Fridas apresenta um vestido branco, com detalhes florais em vermelho, gola alta, mangas trabalhadas, talvez influência da viagem que a pintora fizera a Paris. A outra Frida usa um vestido cotidiano, com cores fortes, poucos detalhes e uma barra enfeitada, tipicamente um vestido de Frida.
Um detalhe marcante no quadro é a exposição do coração em ambas as Fridas, que se interligam por uma artéria. O coração da Frida com traje típico aparece inteiro, ainda que fora do corpo, mas inteiro, enquanto que a outra está com o coração partido.
O detalhe das mãos mostra quem estava a apoiar quem. A Frida de coração inteiro é quem segura a mão da outra, e na mão esquerda ela tem um pequeno retrato de Diego Rivera. Mesmo com o coração partido, a parte feminina e delicada de Frida Kahlo, não está morta. A forte, masculinizada através de expressões e o modo de sentar-se, ainda mantém uma artéria ligada e levando vida ao coração partido da doce.
Texto retirado do site Estorias da História.
Autorretrato com colar de espinhos – 1940
Nessa pintura, Frida pinta a si mesma em pose frontal para evidenciar sua presença. Ela desemaranhou a coroa de espinhos de Cristo e a usa como um colar, apresentando-se como uma mártir Cristã.
Os espinhos cravados em seu pescoço simbolizam a dor ainda sentida por ela graças ao seu divórcio com Diego. Pendurado no colar há um beija-flor morto, cujas asas estendidas ecoam as sobrancelhas unidas de Frida. Na cultura folclórica mexicana, beija-flores mortos eram usados como talismãs que trazem sorte no amor. Acima do ombro esquerdo, um gato preto, um símbolo de má sorte, espera para atacar o beija-flor. Sobre o ombro direito, o símbolo do diabo, seu macaco de estimação... Um presente de Diego. Em volta de seu cabelo, borboletas, representando Ressurreição. Mais uma vez Frida usa uma enorme parede de plantas tropicais como plano de fundo.
Frida havia pintado anteriormente um autorretrato que queria dar ao seu amante, o fotógrafo Nickolas Muray. Entretanto, depois de sua separação com Diego, teve que vendê-lo para arrecadar fundos para contratar um advogado de divórcios. Para substituí-lo, pintou este autorretrato para Muray.
Texto traduzido do site Frida Kahlo Fans.
Para quem desejar conhecer mais obras e a história das mesmas para a pintora, há o sites: http://www.fridakahlofans.com/ e http://www.portalmedico.org.br/biblioteca_virtual/belas_artes/cap2.htm