Acrescentadores
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boca boca
sem mira
atiro em mim mesmo
às vezes
saio lanhado e disforme
y novamente me transformo :
assumo a interina forma
no mais
sou o verso que voa
no espetáculo sem bis
do instante
Lau Siqueira
Olhos de demora
Podia tocar os olhos dela, rede de arrasto
Passo que cintila, autêntico traço
Podia trocar os olhos dela, enquanto me passo
Palhaço. Mudança de termos, pessoa, a peito de aço
Podia focar nos olhos fortes dela, enquanto viril voo compasso
Atraso, abraço, intenção de enlaço
Tocar, trocar, focar nos olhos dela
e por não ser tão fácil,
guardar cada olhar que ela sela, em tela
Se um dia, não fosse tão dela fugir
à moldura de si.
Cris Estevão.
Por aí...
Essa saudade que vem
Essa incerteza tão certa
Que chegam assim
Sem aviso, sem nada
Tornam turva minha estrada
Tomam conta de mim...
Esse forte sentir
Sem chegar ou partir
Um doer tão sentido
Que traz inquietude
Ao sonhar que algo mude
Num querer sem ter querido...
Esse insano amargor
Em um ar de pavor
Como andar no vazio
Uma certa ansiedade
Talvez mentira ou verdade
Como estar por um fio.
Essa procura discreta
Numa angústia secreta
Para ter sem querer achar
Um tanto de choro abafado
Num riso triste, dominado
Assim vou, tentando me encontrar...
Talvez eu me encontre um dia
Retome, então, a alegria
E volte a sorrir, se puder.
Por enquanto, pelas ruas circulo
Entre vozes e olhares, no escuro
Sou nas noites, por aí, um qualquer...
Rogério Nascente
Blog Certas Palavras
rogerionascente.blogspot.com.br
Vou tocar
Até meus dedos sangrarem, eu vou
Cantar
Até minha garganta arranhar, eu vou
Dançar
Até minhas pernas travarem, eu vou
Até minhas mãos entortarem, eu vou
Pintar, escrever, ensinar e aprender
Porque eu sou aprendiz de Gonzaguinha
Metamorfose de Raul, início, fim e meio
Eu sou o realce de Gilberto e Avohai de Zé Ramalho.
Aprendiz e professor de uma vida eu vou Ser.
Eu sou artista e sou arte, sou a peça e sou a parte
Eu sou artista e sou a parte, eu sou a arte e sou a peça
Eu vou aprender
Até minha cabeça explodir, eu vou
E catar todos os pedaços pra aprender de novo
Até minha cabeça se unir, eu vou
Até a arte fazer sentido
Até a arte não fazer sentido
Até a que a retórica subliminar sublime o ar que respiro
Até que a métrica se destrua e o verso se dispa
Eu vou aprendendo, fazendo arte
Obra-prima ou obra de Marte, desde que arte.
Leopoldo Pires
Jura, tanajura
Só basta ter uma chuvinha num dia e um tantinho de Sol no outro que todo mundo já sabe: vai ter tanajura.
No Nordeste é tradicional: os moleques vão pra rua de fralda ou pano de prato na mão, qualquer mulambo véi serve; o importante é pegar as bixinha. Há quem queira comer, há quem queria só brincar de catar tanajura no ar... É coisa da vida. Algumas vão pro saco, outras pra panela... As mais afortunadas encontram o chão pra realizar o objetivo das suas curtas vidas: procriar.
A tanajura avôa jurando que, se escapar do pano de bunda do menino, vai encontrar o barro molhado pra desovar. Tana... Tanajura, jura visse?
O problema é o homem; heita bicho fela da mãe!
Passa uma capa na terra toda, mete asfalto, calçada, lajota, azulejo, pedra... o d’jabo à quatro! Tudo em nome do conforto daqueles que são a cereja no bolo da criação.
E a tanajura chega, doidinha pra passar de fêmea pra macho: levou butada do sibito; agora é ela que vai botar na terra seus futuros filhos.
Mas quem disse? Nem a semente fura pra cima, nem a tanajura fura pra baixo. Nessa terra dura só dá prédio e a gente preda, seja pra botar no prato, seja pra botar no saco.
Esse menino não cresce nunca.
Rhafael Cainã Santos
“Dois c ntos
o le
rpos
CORPULENTOS,
c p l v m pelo
o u a a
chão_
Ora pulavam,
ora uivaaaaaa
vam,
ão
e tudo sem paix”
(fYa)
Carlos Henrique
Disagree
Agricultura não é somente o cultivo de grãos.
Agricultura é o cultivo da agressão:
agressão da pele, do corpo, da idade
que não suporta mais o peso da enxada
- e nem mesmo a puxada do próprio peso;
- e nem mesmo a puxada do in-amigo agreste.
Agricultura não é somente o cultivo de grãos.
Agricultura é injustiça, é dis-"paridade" de poder aquisitivo:
materializa a fadiga de quem já nasceu fadigado
e desmaterializa a fome do homem dito civilizado.
(e usado.)
Agricultura, por incrível que apareça o sol a pino, é a vida
de quem sabe (se) fazer no ser-tão.
Ingrid Nascimento
retrato que ninguém vê
passo noites a fio tentando alcançar a cauda do universo
tento beijar os lábios da madrugada e quase consigo uma vez – ela se distraiu.
fiz de meu quarto de sonhar um pequeno solstício
e devo ser a maior concentração de caos por metro quadrado do quarteirão.
gosto de ficar pelo sol e de ver molhar minha juba
mas prefiro molhar o sol pra ficar com a minha juba.
danço pro sol, danço pra lua.
danço pra ser e pra ser lua.
tenho vocação pra ser morro de Barro – entorto a bunda das paisagens
e fotografo as meninas que florescem no jardim.
sou capaz de esconder seus nomes nos poemas
só pra rir de mim mesmo, iludo que engano um qualquer.
peco em voz alta, que dá mais futuro
sangro em voz baixa, que é pra doer menos.
pra fazer feliz, por sofrer, de te esperar, eu canto
pra caetanear o que há de bom, eu canto.
eu num presto nem pra poesia.
Gustavo Limeira