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Acrescentadores

 

Uma das áreas mais especiais do site. Nossos leitores podem nos enviar suas obras literárias para divulgarmos aqui. Se você tem vontade de compartilhar poesias ou textos de sua autoria, basta entrar em contato conosco pelo email: cumbucaliteraria@hotmail.com ou pela fan page do Cumbuca: facebook.com/cumbucaoficial

 

 

boca boca

 

sem mira

atiro em mim mesmo

às vezes

 

saio lanhado e disforme

 

y novamente me transformo :

assumo a interina forma

 

no mais

sou o verso que voa

no espetáculo sem bis

do instante

 

Lau Siqueira

 

Olhos de demora

 

Podia tocar os olhos dela, rede de arrasto

Passo que cintila, autêntico traço

Podia trocar os olhos dela, enquanto me passo

Palhaço. Mudança de termos, pessoa, a peito de aço

Podia focar nos olhos fortes dela, enquanto viril voo compasso

Atraso, abraço, intenção de enlaço

Tocar, trocar, focar nos olhos dela

e por não ser tão fácil,

guardar cada olhar que ela sela, em tela

Se um dia, não fosse tão dela fugir

à moldura de si.

Cris Estevão.

 

Por aí...

 

Essa saudade que vem
Essa incerteza tão certa
Que chegam assim
Sem aviso, sem nada
Tornam turva minha estrada
Tomam conta de mim...

Esse forte sentir
Sem chegar ou partir
Um doer tão sentido
Que traz inquietude
Ao sonhar que algo mude
Num querer sem ter querido...

Esse insano amargor
Em um ar de pavor
Como andar no vazio
Uma certa ansiedade
Talvez mentira ou verdade
Como estar por um fio.

Essa procura discreta
Numa angústia secreta
Para ter sem querer achar
Um tanto de choro abafado
Num riso triste, dominado
Assim vou, tentando me encontrar...

Talvez eu me encontre um dia
Retome, então, a alegria
E volte a sorrir, se puder.
Por enquanto, pelas ruas circulo
Entre vozes e olhares, no escuro
Sou nas noites, por aí, um qualquer...

 

Rogério Nascente

 

Blog Certas Palavras

rogerionascente.blogspot.com.br

Vou tocar

Até meus dedos sangrarem, eu vou

Cantar

Até minha garganta arranhar, eu vou

Dançar

Até minhas pernas travarem, eu vou

Até minhas mãos entortarem, eu vou

Pintar, escrever, ensinar e aprender

Porque eu sou aprendiz de Gonzaguinha

 Metamorfose de Raul, início, fim e meio

Eu sou o realce de Gilberto e Avohai de Zé Ramalho.

Aprendiz e professor de uma vida eu vou Ser.

Eu sou artista e sou arte, sou a peça e sou a parte

Eu sou artista e sou a parte, eu sou a arte e sou a peça

Eu vou aprender

Até minha cabeça explodir, eu vou

E catar todos os pedaços pra aprender de novo

Até minha cabeça se unir, eu vou

Até a arte fazer sentido

Até a arte não fazer sentido

Até a que a retórica subliminar sublime o ar que respiro

Até que a métrica se destrua e o verso se dispa

Eu vou aprendendo, fazendo arte

Obra-prima ou obra de Marte, desde que arte.

Leopoldo Pires

 

Jura, tanajura

 

Só basta ter uma chuvinha num dia e um tantinho de Sol no outro que todo mundo já sabe: vai ter tanajura.
No Nordeste é tradicional: os moleques vão pra rua de fralda ou pano de prato na mão, qualquer mulambo véi serve; o importante é pegar as bixinha. Há quem queira comer, há quem queria só brincar de catar tanajura no ar... É coisa da vida. Algumas vão pro saco, outras pra panela... As mais afortunadas encontram o chão pra realizar o objetivo das suas curtas vidas: procriar.
A tanajura avôa jurando que, se escapar do pano de bunda do menino, vai encontrar o barro molhado pra desovar. Tana... Tanajura, jura visse?
O problema é o homem; heita bicho fela da mãe!
Passa uma capa na terra toda, mete asfalto, calçada, lajota, azulejo, pedra... o d’jabo à quatro! Tudo em nome do conforto daqueles que são a cereja no bolo da criação.
E a tanajura chega, doidinha pra passar de fêmea pra macho: levou butada do sibito; agora é ela que vai botar na terra seus futuros filhos.
Mas quem disse? Nem a semente fura pra cima, nem a tanajura fura pra baixo. Nessa terra dura só dá prédio e a gente preda, seja pra botar no prato, seja pra botar no saco.
Esse menino não cresce nunca.

 

 

Rhafael Cainã Santos

 

“Dois c             ntos

            o        le

              rpos

        CORPULENTOS,

                        c  p l  v  m pelo

                         o  u a a

 

                                                  chão_

       Ora pulavam,

                    ora uivaaaaaa

                                              vam,

                                                             ão

                              e tudo   sem paix”

                                                                                                                                                (fYa)  

 

Carlos Henrique

 

Disagree

 

Agricultura não é somente o cultivo de grãos.

Agricultura é o cultivo da agressão:

agressão da pele, do corpo, da idade 

que não suporta mais o peso da enxada

- e nem mesmo a puxada do próprio peso;

- e nem mesmo a puxada do in-amigo agreste.

 

Agricultura não é somente o cultivo de grãos.

Agricultura é injustiça, é dis-"paridade" de poder aquisitivo:

materializa a fadiga de quem já nasceu fadigado

e desmaterializa a fome do homem dito civilizado.

(e usado.)

 

Agricultura, por incrível que apareça o sol a pino, é a vida

de quem sabe (se) fazer no ser-tão.

Ingrid Nascimento

 

 

retrato que ninguém vê

 

passo noites a fio tentando alcançar a cauda do universo

tento beijar os lábios da madrugada e quase consigo uma vez – ela se distraiu.

fiz de meu quarto de sonhar um pequeno solstício

e devo ser a maior concentração de caos por metro quadrado do quarteirão.

gosto de ficar pelo sol e de ver molhar minha juba

mas prefiro molhar o sol pra ficar com a minha juba.

danço pro sol, danço pra lua.

danço pra ser e pra ser lua.

tenho vocação pra ser morro de Barro – entorto a bunda das paisagens

e fotografo as meninas que florescem no jardim.

sou capaz de esconder seus nomes nos poemas

só pra rir de mim mesmo, iludo que engano um qualquer.

peco em voz alta, que dá mais futuro

sangro em voz baixa, que é pra doer menos.

pra fazer feliz, por sofrer, de te esperar, eu canto

pra caetanear o que há de bom, eu canto.

 

eu num presto nem pra poesia.

Gustavo Limeira

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