Christer, a subjetividade e a França
O sueco Christer Strömholm, nascido na cidade de Estocolmo, foi um educador e grande fotógrafo de influência permanente do século XX, apesar de ser pouco conhecido fora da Suécia. Ele era membro do grupo criado por de Otto Steinert, o Fotoform, fundado em 1949 com intuito de experienciar novas possibilidades criativas da fotografia - uma fotografia subjetiva, que fora extinguida pela política cultural nazista. Christer também foi co-fundador e diretor da Academia Fotoskolan.
O seu mais aclamado trabalho foi o "Les amies de Place Blanche", que se tratava da documentação de transexuais em Blanche, uma estação metropolitana de Paris. Esse registro foi realizado na chegada do fotógrafo a cidade, onde fez amizade e descobriu como funcionava a vida daquelas pessoas: as transexuais lutavam para viver como mulheres e arrecadar dinheiro para as suas operações de mudança de sexo. O resultado desta documentação deu-se em uma forte homenagem, retratos surpreendentemente íntimos e exuberantes cenas noturnas das chamadas "namoradas da Place Blanche", trazendo reflexão para além da fotografia.
Os registros levantam questões profundas sobre sexualidade e gênero. O foto-ensaio, composto por fotografias em preto e branco, que era uma mistura de fotografia de rua com retratos, foi publicado em 1983. Esse esgotou-se rapidamente e se tornou um clássico da fotografia europeia do pós-guerra, sendo reeditado em Francês e em Inglês.
Por fim, as palavras de Christer a respeito do seu livro:
"Este é um livro sobre a insegurança. A representação das pessoas que vivem uma vida diferente na grande cidade de Paris, de pessoas que suportaram a rugosidade das ruas. Este é um livro sobre a humilhação, sobre o cheiro de prostitutas e a vida noturna em cafés. Este é um livro sobre a busca por auto-identidade, sobre o direito de viver, sobre o direito de possuir e controlar o próprio corpo. Este é também um livro sobre amizade. Um relato da vida que vivemos em place Blanche e no bairro Place Pigalle. Seu mercado, sua avenida e os pequenos albergues que residimos. Estas são imagens de um outro tempo. Um tempo em que Gaulle era presidente e a França estava em guerra contra a Argélia. Essas são imagens de pessoas com as quais eu dividi e acho que compreendi suas vidas. Essas são imagens de mulheres - biologicamente nascidas como homens - as quais chamamos de "transsexuais". Quanto a mim, eu os chamo de "Les amies de Place Blanche". Essa amizade começou aqui, no começo dos anos 60, e ainda prevalece."
Christer Strömholm, 1983.