Poeta Zé da Luz
Poeta paraibano nascido em Itabaiana no ano de 1904. Seu nome era Severino de Andrade Silva, alfaiate de profissão. Não se sabe muito sobre a vida do mesmo, porém deixou uma série de poemas bastante regionais e que acrescentam a poesia popular brasileira.
Zé da Luz morreu em 1965 no Rio de Janeiro.
As Flô de Puxinanã
Três muié ou três irmã, Três cachorra da molesta, Eu vi num dia de festa, No lugar Puxinanã. A mais véia, a mais robusta Era mesmo uma tentação! Mimosa flô do sertão Que o povo chamava Ogusta. A segunda, a Guléimina, Tinha uns ói que ô! maldição! Matava qualquer cristão Os oiá dessa menina. Os ói dela parecia Duas estrela tremendo, Se apagando e se acendendo Em noite de ventania. A terceira, era Maroca. Com um corpo muito malfeito. Mas porém, tinha nos peito Dois cuzcuz de mandioca. Dois cuzcuz que, por capricho, Quando ela passou por eu, Minhas venta se acendeu Com o cheiro vindo dos bicho. Eu inté me atrapaiava, Sem saber das três irmã Que eu vi em Puxinanã, Qual era a que me agradava. Escolhendo a minha cruz Pra sair desse embaraço, Desejei morrer nos braços, Da dona dos dois cuzcuz!
A banda “Cordel do fogo encantado” recitou um dos poemas mais famosos de Zé da Luz, "Ai se Sêsse!":
A CACIMBA
Tá vendo aquela cacimba Lá na bêra do riacho, Im riba da ribancêra, Qui fica, assim, pru dibaxo De um pé de tamarinêra?
Pois, um magote de môça Quage toda menhanzinha, Foima, assim, aquela tuia, Na bêra da cacimbinha Tomando banho de cuia!
Eu não sei pru quê razão, As águas dessa nacente, As águas qui alí se vê, Tem um gosto deferente Das cacimba de bêbê…
As águas da cacimbinha Tem um gôsto mais mió. Nem sargada, nem insôça… Tem um gostim do suó Dos suvaco déssas môça…
Quando eu vejo essa cacimba, Qui inspio a minha cara E a cara torno a inspiá, Naquelas águas quilara, Pego logo a desejá…
…Desejo, pra que negá? Desejo ser um caçote, Cum dois óio desse tamanho! Pra vê, aquele magóte De môça tumando banho!
Por José Lins do Rego
Pediu-me Zé da Luz um prefácio para o seu livro de versos. E eu lhe disse: Meu caro poeta, você não precisa de prefácios, porque a sua poesia fala com mais autoridade que qualquer palavra de apresentação. Que autoridade terei para dar carta de fiança a quem possui os melhores tesouros deste mundo? Ora, Zé da Luz, você vale pelo que é, e não pelo que se possa dizer de você.
O livro que você me deu para ler, li-o de uma vez só, eu que sou mais impaciente que um azougue, que tenho a atenção tão frágil para as coisas, que só paro quando, de fato, vence-me uma grandeza real. Li-o de um golpe, até alta hora da noite, e posso dizer que, lendo-o, era como se estivesse na nossa terra, no convívio da nossa gente, a escutar o falar arrastado do povo, dos erres comidos, nos eles sem fôrça. Mas falar que me ligava à infância, aos tempos de menino de engenho, às conversas de eito, aos dias de festa, aos cantadores do sertão, aos mestres da viola, às histórias de valentes, aos romances de amor puro como as flores das caatingas, no inverno. E de tanto ler o seu livro e de tanto gostar dos seus versos, meu caro poeta dos vaqueiros, dos carros de boi, das noites, das chuvas, das dores do povo, me senti outra vez paraibano, mais filho do Pilar, das várzeas de cana, dos cantos dos nossos canários amarelos e dos galos de campina de cabeça encarnada. Tôda a Paraíba está na sua poesia, meu caro poeta. E se você tem esta fôrça para poder cantar a nossa terra, como canta, para que prefácios?
SERTÃO EM CARNE E OSSO
No romper das alvorada, Quando alegre a passarada Se desmancha em cantoria, Anunciando ao sertão A sua ressurreição No despontar de outro dia!
Nos galho das baraúna Os magote de graúna Quando o seu canto desata, Parece uns vigário véio Cantando o santo evangéio Na igreja verde da mata!
Canta nas tarde morena Quando o sol vai descambando, Se despedindo da terra, Beijando a crista da serra, Deixando o céu tão bonito, Que o sol redondo e vermêio Parece, mal comparando, Um grande chapéu de couro Na cabeça do infinito!
Referências: http://www.luizberto.com/repentes-motes-e-glosas/cinco-poemas-de-ze-da-luz
http://blogdomimica.blogspot.com.br/p/ze-da-luz.html
https://melnotacho.wordpress.com/tag/ze-da-luz/