O rei dos poetas populares - Leandro Gomes de Barros
“A cabeça um tanto grande e bem redonda,
O nariz, afilado, um pouco grosso;
As orelhas não são muito pequenas,
Beiço fino e não tem quase pescoço.
Tem a fala um pouco fina, voz sem som,
De cor branca e altura regular,
Pouca barba, bigode fino e louro.
Cambaleia um tanto quanto ao andar.
Olhos grandes, bem azuis, da cor do mar;
Corpo mole, mas não é tipo esquisito,
Têm pessoas que o acham muito feio,
Sua mãe, quando o viu, achou bonito!”
Leandro Gomes de Barros foi um paraibano nascido no ano de 1865 na fazenda Melancia, no município de Pombal, considerado o rei dos poetas populares. Ele é considerado o pioneiro da literatura de cordel no Brasil e escreveu em torno de 240 obras.
Até os 15 anos, Leandro viveu em Teixeira, município batizado como o centro da literatura popular nordestina. Sua atividade poética o obrigava a viajar muito pelos sertões para divulgar e vender os seus poemas, já que foi um dos poucos poetas populares a viver apenas dos cordéis que criava.
“- Donzela qual é a coisa
Que pode ser mais ligeira?
Respondeu: - O pensamento
Que voa de tal maneira
Que vai ao cabo do mundo
Num segundo que se queira.”
Trecho de A donzela Teodora.
Leandro casou-se e teve quatro filhos, a que se tem mais destaque é Raquel, que após a morte do pai, assumiu por um tempo a continuação dos folhetos escritos por ele. Pelo que foi lido e estudado a seu respeito, ao se falar de poesia, o cordelista não deixou descendentes diretos.
Carlos Drummond de Andrade fez uma crônica para mostrar a importância que ele atribui a Leandro Gomes de Barros. Na qual ele critica o título atribuído a Olavo Bilac como príncipe dos poetas, e que em sua opinião, deveria ser destinado ao cordelista.
Leandro, o poeta (por Carlos Drummond de Andrade) (Jornal do Brasil, 9 de setembro de 1976) ”Em l913, certamente mal informados, 39 escritores, num total de l73, elegeram por maioria relativa Olavo Bilac príncipe dos poetas brasileiros. Atribuo o resultado a má informação porque o título, a ser concedido, só podia caber a Leandro Gomes de Barros, nome desconhecido no Rio de Janeiro, local da eleição promovida pela revista Fon-Fon, mas vastamente popular no Norte do país, onde suas obras alcançaram divulgação jamais sonhada pelo autor de Ouvir Estrelas. E aqui desfaço a perplexidade que algum leitor não familiarizado com o assunto estará sentindo ao ver defrontados os nomes de Olavo Bilac e Leandro Gomes de Barros. Um é poeta erudito, produto de cultura urbana e burguesia média; o outro, planta sertaneja vicejando à margem do cangaço , da seca e da pobreza.Aquele tinha livros admirados nas rodas sociais, e os salões o recebiam com flores. Este espalhava seus versos em folhetos de cordel, de papel ordinário, com xilogravuras toscas, vendidos nas feiras a um público de alpercatas ou de pé no chão. E conclui a propósito de Leandro: Não foi príncipe de poetas do asfalto, mas foi, no julgamento do povo, rei da poesia do sertão, e do Brasil em estado puro”.
"- Donzela o que é vida?
Disse ela: - Um mar de torpeza
O que pode assemelhar-se
À vela que está acesa
Às vezes está tão formosa
E se apaga de surpresa."
Trecho de A donzela Teodora.
Abaixo segue uma pequena reportagem que o Globo Rural apresentou, contando um pouco da história de Leandro. Durante os relatos, Ariano Suassuna conta como os folhetos de Leandro inspiraram trechos de sua obra mais conhecida, O auto da Compadecida.
Leandro traz uma definição do homem baseado nos animais, nesse mesmo cordel já citado, A donzela Teodora:
"- É manso como a ovelha
E feroz como o leão
Seboso como o suíno
É limpo como o pavão
É falso como a serpente
é tão leal como o cão.
- É fraco como o coelho
Arrogante como o galo
Airoso como o furão
Forçoso como o cavalo
E mais te digo que o homem
Ninguém pode decifrá-lo.
- É calado como peixe
Fala como papagaio
É veloz igual um raio
O sábio quando ouviu isto
Quase que teve um desmaio."
Referências para criação do post:
http://www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/leandro_biografia.html#
https://www.algosobre.com.br/biografias/leandro-gomes-de-barros.html